Era uma vez um pai que brigava muito com seu filho Kim. De modo que, quando um pai briga com os filhos, oitenta por cento (ou quase isso), não é culpa do pai. Principalmente na fase de adolescência que é quando o ser-humano mais quer ter razão. Eu vejo isso pelos meus alunos. O cérebro está em plena transformação, algumas opiniões encharcam a cabeça das menina e meninos e é nessa fase que a descoberta do amor começa a engatinhar paixões – a adrenalina emocional desperta, ou seja, são muitas coisas de uma vez só para uma mente não-madura ainda. A maioria nem se interessa pelos estudos! O celular é bem mais importante que um livro, a internet chama mais atenção do que um caderno, e aquele(a) garoto(a) bonita(a) da escola tem mais razão que o pai e a mãe juntos.
Era essa mesma razão que fazia com que nervosismo gerasse raiva dentro daquele lar, onde Kim acabara de fazer 16 anos. A guerra era inevitável. O filho só chegava tarde em casa, comia fora de hora, não falava com o pai e nem com a mãe. Fumava e, por vezes, passava mais de um dia fora de casa - uma infeliz situação para qualquer lar, mas que muitos adolescente já fizeram. De um lado, estava o pai a impor o melhor para Kim; do outro, o filho a executar ações pelas quais julgava corretas.
Adolescentes adoram sair, beber, dançar: anarquia é o melhor estilo de vida para defini-los, de modo que certa feita quando voltava de uma festa tarde da noite, o colega de Kim bateu o carro. Havia quatro pessoa no veículo. Todas saíram prejudicadas. Kim, em questão, perdeu o movimento das pernas. Quando recebeu alta do hospital, deixou a instituição numa cadeira de rodas. Seu pai não aguentava ver tamanho sofrimento.
Conversaram muito, se perdoaram, e, depois de algum tempo o pai resolveu tomar uma decisão que mudaria para sempre a vida daquela família. Seria difícil para Kim, mas a proposta era abandonar a cadeira de rodas aos pouco, de maneira que seu pai faria tudo para que os movimentos das pernas voltassem. Seu pai estava disposto a incentivá-lo.
Numa tarde de domingo, foi até o quarto do filho, estendeu-lhe as mãos e, então, o pai puxou o filho para que ele ficasse de pé, mas Kim não tinha força nas pernas, e então, os braços de Kim foram apoiados sobre os ombros do pai. Ele então começou a arrastar o filho, cujos braços encontrava assento sobre os ombros de seu pai - essa foi uma maneira de fazer o filho andar, ainda que puxado pelo pai.
E, rebocado pelas costa do pai, os pés de Kim arrastavam-se bairro afora. Dessa maneira eles iam à padaria, esola, parque, estão de trem, mercado e até davam voltas do quarteirão para que os músculos das pernas se acostumassem a andar novamente. Era um verdadeiro aprendizado que remetia à tempos de outrora, vindo à lembrança dias em que Kim, enquanto bebê, ainda dava os primeiros passos. O pai se viu a ensinar o filho outra vez, e fazia com prazer. Os médicos previam um ano de cadeira de roda até que Kim conseguisse recuperar-se completamente, porém, com a ajuda do pai, o esforço e a força de vontade de ambos, bem como a harmonia que sintonizava a relação pai-filho, foi possível estar totalmente curado em dois meses.
Hoje, a paz reina dentro desse lar. Pai, mãe e filho almoçam juntos, saem juntos, vivem perfeitamente bem, e às vezes, um convite para sair com os amigos é até recusado. Apenas para passar algumas horas com alguém que valha a pena. O Pai a quem um dia jurou amá-lo para sempre.
"Não existe triunfo sem perdas, não há vitória sem sofrimento, não há liberdade sem sacrifício" - autor desconhecido.
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