30 de nov. de 2012


A sala dos carecas

Havia uma mãe que vivia a sofrer o problema da filha. Leslie, 13 anos. Câncer. O primeiro dia de aula coincidiu com a mesma época em que ela estava justamente com a cabeça raspada.
Mãe eu não vou pra escola assim.” Por que não?” Porque eu não quero que ninguém dê risada de minha aparência, e eu estou com vergonha.” A mãe, portanto, a partir dali teve mais um problema para se preocupar. Como convencer a filha de frequentar as aulas? Teve uma ideia e comprou uma peruca. Argumentos vão, argumentos vêem, a menina topou vestir os cabelos falsos e foi pra escola. No recesso havia uma porção de crianças a correr, brincar, jogar bola, e conversar. Porém, Leslie ficava num canto acompanhada de seu complexo, de modo que, eis que alguém sem querer esbarrou em sua peruca e a mesma caiu no chão. Ela abaixou para apanhá-la e quando levantou viu todo mundo rindo de sua cara. Leslie nem voltou pra sala de aula, foi direto para a diretoria onde ligou para mãe e contou tudo. A mãe ficou muito triste com tudo isso. A menina ficou sem ir à escola por um bom tempo.
Tão logo a mãe foi à farmácia, desesperadamente, em busca de um remédio para crescer cabelos. Quem a atendeu foi um funcionário que estava lá há pouco e não tinha muita experiência, mas tinha coração. A mãe pediu-lhe o remédio e contou-lhe a história da filha e todo sofrimento desse calvário. O farmacêutico teve uma ideia, pois. Ele escreveu um bilhete que dizia assim: “Olá, meu nome é Leslie, desculpe se vos pertubo, mas gostaria de ser tratada como eu sou, pois sou igual a vocês, apenas tenho câncer e devo continuar careca por um bom tempo. Sofro com preconceitos e, talvez, eu não tenha muito tempo de vida, mas assim como vocês, eu necessito continuar a viver com motivação - o que tem sido muito difícil sem apoio. Grato pela vossa atenção.”
O farmacêutico que escreveu esse pequeno apelo, fez inúmeras cópias e distribuiu pela cidade. Toda vizinhança recebeu. Na escola foi ter com a diretora, quem o permitiu a entrega do aviso a todos alunos, professores e colaboradores. Feito isso o farmacêutico quis saber da mãe onde eles moravam, pois o funcionário queria falar com Leslie. “Olha, não importa o quanto a vida vai te bater. Esteja certa de que todos nós vamos cair, mas o que importa mesmo é o quanto você aguenta apanhar. Levante sempre. Por isso mesmo, cabeça pra cima e vá à luta; sinta orgulho de você mesma, e lembre-se: não importa o quão frágil seja uma situação, sempre cabe dois lados, agora vá pra escola e escolha o lado da motivação.” entre palavras de esperança, renovação, força de vontade, a menina nunca antes sentiu-se tão cheia de si.
Leslie pegou a mochila, pôs a peruca e a mãe a levou de carro. Quando estacionou na rua, Leslie desceu, caminhou até portão, mas não entrou. Deu meia volta, reclinou-se sobre a janela, tirou a peruca e falou : “Mãe não preciso mais dessa peruca”. A mãe apenas consentiu com um olhar que dispensava comentários. Quando Leslie chegou à sala, encontrou-na com as portas, janela e cortinas fechadas. Bateu à porta ao que ouviu a voz do professor: Pode entrar!
Qual não foi sua surpresa ao presenciar que todos os alunos, inclusive o professor estavam como ela. E na lousa uma promessa: “não deixaremos nossos cabelos crescerem enquanto você estiver careca”.

Podemos esperar a vida inteira para encontrar a flor perfeita e rara. E mesmo assim não será um desperdício.” - do filme O último Samurai.




23 de nov. de 2012

Crônicas de um inseminação



Havia uma mulher, que, antes mesmo de conhecer seu marido havia retirado o útero, mas eles queriam um filho. O moço era tão compreensivo que tinha que lidar com o a síndrome do pânico de sua esposa e ainda era hipocondríaca. Ela vivia doente e não se desgrudava dos remédios. O marido gastava uma nota preta com as drogas, já que era rico. De repente, a vizinhança soube dos rumores de que ela havia tido gêmeos. A notícia corria tal qual um maratonista jamaicano, mas ninguém por ali sabia que ela não tinha útero. A fofoca que rodava no bairro era: “Sabia que aquela moça que não sai de casa, esposa daquele rapaz rico está com um filho?” Alguns desconfiavam que era um casal; outros falavam que os gêmeos não eram idênticos; alguns apostavam ainda que era só um - os vizinhos mal a conheciam.
A moça não era do tipo: Onde você vai? Por que chegou tarde hoje? O que estava fazendo na rua? - perguntas natural de toda a esposa que é casada com maridos que trabalham onze horas por dia. Ele até viajava muito para o exterior e voltava três ou quatro dias depois. Grana para ela não era problema e a síndrome do pânico estava quase curada, pois agora ela era uma pessoa feliz, tinha uma bela criança que sempre quis – e ainda com babá para ajudar.
E o que aconteceu com a gravidez da moça foi o seguinte: Ao planejarem um filho, o marido foi ter com Maria, uma mulher viúva, conhecida distante da família que morava em outra cidade, cujo único filho adulto era casado e morava em outro estado: “Olha, você quer ganhar um bom dinheiro, Maria?” “Quero, o que devo fazer?” “Minha mulher não tem útero e queremos um filho, no mínimo parecido comigo”. Maria pensou, pensou, e três dias depois liga pra ele: Aceito.

o tempo não é algo que pode voltar atrás, portanto plante seu jardim, invés de esperar que alguém lhe traga flores” – autor desconhecido.

14 de nov. de 2012

Simplão de tudo




Fomos em dois carros, eu não conhecia ninguém, a não ser o rapaz e a menina cuja dupla de cantores me convidou para tirar fotos do evento. Logo quando chegamos à festa, a atmosfera do local já tomou conta de meu espírito sereno. Pudera, era uma local no meio do mato, onde a paisagem natural dava lugar à selva de pedra – e o céu parecia enfeitado de confetes brilhantes. Eu que vivo no estresse da cidade cinza valorizo cada planta, cada folha, cada verde – até o cheiro da estrada de terra era ímpar aos meus sentidos. O local era um pequeno rancho onde também funciona um camping-bar. Ficava no meio do mato, em uma estrada de terra com difícil acesso que liga Paranapiacaba à Mogi das Cruzes. Era aniversário de um cantor que, bem ao estilo bicho-grilo convidou inúmeras pessoas que são adeptas da música. Tinha um pequeno palco montado e, a cada música cantada por diferentes pessoas, revezava-se a vez. Havia profissionais da música, aspirantes, amadores, inicinates enfim... o local era tão distante da civilização que tiveram de levar geradores de energia para funcionar tudo.
O primeiro rapaz quem eu vi e, diga-se de passagem, nem o conhecia, já foi falando comigo: 'Iaí, joia?' 'Beleza e você' 'melhor agora nesse lugar né?' 'é verdade, maior paz de espírito'... após nossa ligeira introdução, olhei para baixo e vi uns degraus feitos de pedras. Era por ali que eu caminharia. Levei o pedestal do microfone e o carron (caixa de percurssão). Logo à minha direita havia um palco com um homem e uma mulher a prepararem-se para tocar. Ela vestia uma saia rodada verde-pastel, blusa branca e lenço na cabeça que tampava seus louros cacheados. Ele tinha a barba por fazer, uma calça que parecia pijama e cabelo de anjo - no peito um colar que parecia a estrela de David. Essa moda ditava o estilo da galera que estava lá – o que não faltava eram cortes de cabelo à la bob marley. Andei alguns passos entre as gramíneas e deixei os acessórios dentro do bar. Eu não sei qual era a cor da parede, pois estava forrada de fotos – alguns até famosos. Numa estante ao alto da pia havia um boneco de um mago que segurava um incenso. No balcão do bar, uma pequena estátua de um buda feito em gesso. Os penduricalhos que saíam do teto eram incontáveis catalisadores de sonhos que variavam cor e tamanho. Ao lado do fogão exista uma mesa com bibelôs de toda a sorte: fadas, gnomos, anões, alienígenas e todas essas viagens que só existem em contos dos Irmãos Grimm.
Encostei o cotovelo no balcão e ordenei uma cerveja que veio em um copo plástico de quase meio litro. A dona do bar cedeu-me gratuitamente, mas se você tiver fome lá, tenha certeza que vai desembolsar uma boa grana pra comer um simples pão com presunto, já que a padaria mais próxima estava há uns bons vinte quilômetros dali. A dona do bar era uma senhora de cinquenta anos, baixinha e gordinha, super-simpática que falava mais grosso que eu. Tinha os cabelos curtos encaracolados e soltava mais fumaça do que trem não-elétrico. Na frente do balcão exisia uma roda de jovens que, com dois violões, não paravam de cantar – Raul Seixas e Zé Ramalho eram os mais tocados.
Uma hora da manhã e os os primeiros acordes ecoaram lá do palco improvisado. A essa altura formou-se um aglomerado que acompanhava em couro músicas do Legião Urbana. Depois desse 'cover' foi a vez de um rastafari cantar seu reggae. Houve rock, forró, MPB, pop, até uma sósia da Janis Joplin – com voz igualzinha. O bar não podia ter outro nome: Simplão e Tudo.

Às vezes não é suficiente ser perdoado. Você tem que se perdoar a sim mesmo.” autor desconhecido

9 de nov. de 2012

O primeiro a pisar no campo de batalha e o último a sair




Era uma vez um pai que brigava muito com o filho - Kim era seu nome. A bem da verdade quando o pai briga com os filhos, oitenta por cento (ou quase isso), não é culpa do pai. Principalmente na fase de adolescência é quando o ser-humano mais quer ter razão. Eu vejo isso pelos meus alunos. O cérebro está em plena transformação, algumas opiniões encharcam a cabeça das menina e meninos e é nessa fase que a descoberta do amor começa a engatinhar paixões – a adrenalina emocional desperta, ou seja, são muitas coisas de uma vez só para uma mente não-madura ainda. A maioria nem se interessa pelos estudos! O celular é bem mais importante que um livro, a internet chama mais atenção do que um caderno, e aquele(a) garoto(a) bonita(a) da escola tem mais razão que o pai e a mãe juntos.
Era essa mesma razão que fazia com que a raiva gerasse a raiva dentro daquela casa. A guerra era inevitável. O filho Kim só chegava tarde em casa, comia fora de hora, não falava com o pai e com a mãe tampouco. Fumava e, por vezes, passava mais de um dia fora de casa. Infeliz situação para qualquer adolescente. De um lado, estava o pai a impor o melhor para Kim; do outro, o filho a executar ações pelas quais julgava corretas.
Adolescentes adoram sair, beber, dançar: anarquia é o melhor estilo de vida para defini-los, de modo que certa feita quando voltava de uma festa tarde da noite, o colega de Kim bateu o carro. Havia quatro pessoa no veículo. Todas saíram prejudicadas. Kim, em questão, perdeu o movimento das pernas. Quando recebeu alta do hospital, deixou a instituição numa cadeira de rodas. Seu pai não aguentava ver tamanho sofrimento.
Conversaram muito, se perdoaram, e, depois de algum tempo o pai resolveu tomar uma decisão que mudaria para sempre a vida daquela família. Seria difícil para Kim, mas a proposta era abandonar a cadeira de rodas aos pouco e, seu pai, estava disposto a incentivá-lo. Numa tarde de domingo, foi até o quarto do filho, estendeu-lhe as mãos e, então, o pai puxou o filho a fim de que se permanece de pé. Kim não tinha força nas pernas, não as movimentava. Os braços de Kim foram apoiados sobre os ombros do pai. Um estava de frente para o outro. Ao mesmo tempo em que o pai segurava os braços do filho ele deu meia volta a fim de se manter de costas para o filho. Kim estava de pé, e o pai deu um passo à frente – puxando-o pelos braços. As pernas de Kim não moviam-se, de modo que foram arrastadas. O pai deu outro passo, e mais outro e vários passos até que Kim pudesse debutar os primeiros movimentos com os pés. O pai de Kim o puxava durante quilômetros, a fim se fazer o filho andar, fosse num parque, fosse à padaria, estação de trem, escola, ou mercado, o pai estava lá – ensinando o filho a andar novamente. Os médicos previam um ano no mínimo até que Kim conseguisse recuperar-se completamente, porém, com a ajuda do pai, o esforço e a força de vontade de ambos, bem como a harmonia que sintonizava a relação pai-filho, foi possível estar totalmente curado em dois meses.
Hoje, a paz reina dentro daquela casa. Pai, mãe e filho almoçam juntos, saem juntos, vivem perfeitamente bem, e às vezes, um convite para sair com os amigos é até recusado. Apenas para passar algumas horas com alguém que valha a pena. O Pai a quem um dia jurou amá-lo para sempre.

você sabe que conseguiu conquistar seus objetivos quando o invisível se torna visível.” - autor desconhecido.