Ao chegar em
casa todos dormiam. De um susto, ao ranger da porta, Lorenzo acorda –
parecia estar com saudade. Abraçou-me logo quando entrei.
Naquela noite não fui para a internet, não abri um
livro, não assisti meus programas - apenas fiquei com ele.
Liguei a TV na emissora de desenhos e, enquanto os sons de bichinhos
inanimados ecoavam na sala, Lorenzo e eu estávamos a preparar
um lanche na cozinha.
Num prato
coloquei bolachas de água e sal juntamente com bisnaguinhas e
um pote de requeijão – levei tudo pra sala. Enquanto
assistíamos Barney, fazíamos a refeição.
Assim como o professor é o maestro da escola, o pai é o
árbitro da partida, então, decidi desligar a tv –
objeto esse de alienação – e peguei uns brinquedos.
Na cama do
meu quarto esparramei as peças do jogo que eram divididas
entre figuras e letras do alfabeto. Objetivo: olhar os desenhos e
escrever os nomes dos objetos num tabuleiro.
Lorenzo é
hiperativo, carinhoso e gosta de um abraço, porém,
quando está em seu momento de introspecção, cria
um mundo só pra ele, em que as regras do jogo é ele
quem faz. Não é errado, é do jeito dele! Algumas
línguas dizem que parece comigo, sobretudo fisicamente,
diga-se de passagem.
Demodo que,
o que ele conseguiu fazer foi algo totalmente diferente do que a
regra sugeria, já que, convenhamos, aos quatro anos, é
desafiador montar um abecedário. Então Lorenzo criou
uma nova forma de brincar, o que resultou em colocar peças
sobre peças até que formasse um castelo de figuras. Em
outra ocasião ordenou-as lado a lado até surgir uma
cobra de letras. Seu censo de organização é
aguçado, pudera, sua mãe tem TOC para limpezas e eu
tenho ojeriza à desordens.
Tão
logo abri um livro-quebra-cabeças, ou seja, as fotos nele
contidas nos desafiam a montá-lo. O livro tem cinco páginas
de quebra-cabeças que conta histórias sobre a vida
marinha, com informaçãoes sobre crustáceos,
anêmonas, tubarões, peixes, algas, baleias e afins, de
maneira que me divertir com meufilho. Ainda brincamos de playmobil e
chegou um momento em que ele deitou-se na cama para dormir. Foi minha
deixa, pois confesso que eu estava com sono também. Quando
disse-lhe que recolheríamos os brinquedos Lornzo tentou me
convencer ao argumentar que queria brincar mais - chorou claro.
Crianças!!.
Apaguei a
luz e contei uma história em que misturei cindelera,
brana-de-neve, joão e o pé-de-feijão, além
de chapeuzinho vermelho, abóboras, sapos e castelos. Coloquei
tudo no mesmo caldeirão e deu um caldo interessante. Segundos
antes do “felizes para sempre” (tem que ter essa parte!) ele
dormiu. Acordou-me falando: -Pai lembra que você contou uma
história do sapo, da princesa, do castelo... Conclui que o
pequeno realmente gostou da minha invenção.
Chego todos
os dias às 22h30 e a família já está na
cama. Esse dia foi excessão e, toda vez que eu encontrar um
deles acordados, terei o prazer de aproveitá-los.
“Quando
está com raiva, tem o direto de estar com raiva. Mas isso não
te dá o direito de ser cruel.” - autor
desconhcecido