13 de abr. de 2012

Professor Gilsão



Ao pular da cama percebi que estava atrasado. Troquei-me de um flash; velozmente tomei um copo d'água; lavei meu rosto e pus-me a correr. O dia estava lindo. Justamente naquela semana, o professor nos aletou para não chegarmos atrasados, sob severas penas segundo normas da escola. Passei pelo bosque; pelas águas dos rios; vi as belas e verdejantes montanhas, além de bandos pelos céus felizes a assobiarem. Juro que pensei em matar aula; deleitar-me à companhia da convidativa da cachoeira e pestanejar à sombra do coqueiral. Risisti à tentação, pois.
Avistei a janela de minha sala de aula, e qual não foi minha surpresa quando percebi que a turma estava sentada um atrás do outro a olhar para a frente sem que ninguém jogava aviãozinho de papel, ou conversava? Naquele dia lembrei-me que tinha chamada oral a fim de conjugarmos verbos no partícipio. Professor Gilson, um senhor alto, cabelos grisalhos e calvo nos dava medo – ele era muito severo e exigente. Eu que não sabia nem os verbos no infinitivo ainda teria uma prova oral de particípios? Talvez a classe etivesse quieta por isso.
Entrei na sala, olhei para ele, e Professor Gilson me fitou de volta “Tô frito” pensei. “Pedrinho, vá sentar” – falou-me doce, surpreendentemente. “Já íamos começar sem você.” Na linha de frente havia coordenadores de outros cursos, o gerente pedagógico, o diretor e o dono da escola. Até mesmo aqueles alunos que consideram estudar a última coisa que fariam na vida estavam presentes lá no fundo da sala. Havia esquecido-me de alguma informação importante, mas qual? A resposta veio de imediato. Gilsão subiu na cadeira e, na frente de todos, começou seu discursso: “Prezados alunos, essa é a última vez que lhes darei aula.”
Como assim? Aquele professor chato, que sempre nos pressionava a conjugar verbos nunca antes vistos e, que se errássemos o mais populares dos verbos, nos dava leves reguadas, ia sair? Se na hora da conjugação eu confudisse Pretérito-Perfeito com Pretérito-Mais-Que-Perfeito, ele griatava: BOMBA!! não só pra mim, mas pra todos que errassem – ele era justo e honesto. Seu Gilson sempre vinha com alguma novidade, nunca sabíamos quando aplicava prova, já que era sempre testes surpresas. Ele tinha uma cara que dava medo, mas naquele momento de sua saída me de um vazio...nunca havia parado pra pensar que talvez eu gostasse tanto dele assim. Por quê será? A classe bagunçava bastante em suas aulas, é verdade; a turma não motivava muito a prestar atenção - a não ser quando ele vinha com aquelas ameças que ia tirar o aluno da classe, chamar o pai a mãe expulsar da escola, etc, etc.
Com sentimento em seu coração, falou para toda a classe, mais precisamente aos alunos-não-muito-bons: “Não vos repreenderei. Vocês já devem estar bastante castigados com tantas BOMBAS!! Como pretendem falar a língua-mãe se nem ao menos sabem conjugar verbos ou formalizar um ditado? Não vos culpo, portanto. Todos nós temos reprovações e, talvez, eu o professor, não tenha ensinado adequadamente. Não existe escola ruim, e se lhes deixo aqui sem que vocês saibam sujeito ou predicado, desculpe mas devo ter errado em algum momento de meu ofício. Por melhor que seja um professor, é muito difícil dar atenção para quarenta alunos de uma vez, por isso que eu fazia provas surpesas e provas orais de conjugação, justamente para aproveitar 100% da classe, pois confio em vossa capacidade de aprendizado. Todos aqui são inteligentes, a diferença é que uns têm mais força de vontade a que outros. Então, quando estiverem no mercado de trabalho, vão olhar para trás e falar que aquele professor de Português era bom, por favor não pensem assim – obrigado pelo adjetivo que me caracteriza como “bom” - mas eu quero que vocês apenas me tenha como um amigo que lhes fez companhia durante vossa vida acadêmica. E lembrem-se: vocês vão precisar de garra, perseverança e atitiudes nobres a fim de atingirem seus objetvos, sobretudo de otimismo – cerquem-se de incentivos que lhes impulsionem mirar alto; sempre tenham confiança na força de espírtio de vocês. Sempre estive disposto a aprender e é por isso que agradeço vocês, meus etrnos alunos. E, do fundo de meu coração, sem exceção, termino esse discurso a lhes desejar para toda a vida: Sucesso!!.
Pensei: “Mister Gilson, você vai deixar saudade!”
O sucesso é um professor perverso. Ele seduz as pessoas inteligentes e as faz pensar que jamais vão cair.”

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