22 de fev. de 2013

Um amor de leão




Era uma vez um escravo que, cansado de tantos maus-tratos fugiu. Ele andou, andou e, por fim, encontrou abrigo numa caverna em meio às montanhas. Sem rumo, a ideia era chegar em algum lugar civilizado, de modo que, à luz da lua, sob as estrelas dormiu na caverna. Não fazia nem uma hora que estava a dormir, quando ouve um rugido forte. Ao abrir os olhos, qual não foi sua surpresa ao encontrar um leão?
O escravo ficou apavorado: Primeiro porque a última coisa que queria era encontrar um felino daqueles; segundo porque estava encurralado dentro da caverna. O bicho rugia cada vez mais. Porém, uma curiosidade: O leão em nenhum momento mencionou atacar o pobre escravo. Atentamente olhou para sua pata e lá havia um enorme espinho. Dizem que se um ser humano passar a mão na boca de um leão que acabou de comer, o animal não fará nada. Talvez, seja essa a estratégia de animadores de circo, mas eu não chegaria perto desse animal, nem que se ele tivesse comido dez quilos de carne.
O espinho o incomodava muito. O escravo logo percebeu o sofrimento alheio e, de um forte puxão, o espinho saiu. O animal ficou muito feliz e aliviado, encostou a cabeça no pobre moço, como se dissesse 'obrigado'. Lambeu o homem de alegria. Dois dias depois, o escravo foi encontrado vagando só pelo deserto. E, naquela época, escravos traiçoeiros eram jogados na arena junto com feras famintas largados à própria sorte. E assim foi feito. Quando o escravo entrou no recinto, o público se manifestou em forma de urros e gritos - o que parecia mais a final da copa do mundo.
O escravo estava super assustado e sabia que morreria. Um leão foi solto, pois. O homem apavorou-se todo. Na hora que o escravo percebeu que a única direção que bicho corria era pra cima dele, o indefeso homem começou a correr pela arena. E o bicho atrás. O moço correu em vão e, logo sentiu um peso enorme nas suas costas de um leão a atacá-lo. O homem veio abaixo e, o bichano que estava por cima começou a lambê-lo e acariciá-lo. Num instante o escravo percebeu que aquele animal era o seu amigo das cavernas. Sim, invés de uma corriqueira luta entre homens e feras, o que se viu foram abraços leoninos.
O público, ao ver tudo aquilo, não compreendia. Os dois estavam muito felizes em plena arena, e era a primeira vez que um homem não saía morto de lá. De modo que o escravo se manifestou para todos ouvirem: - Eu sou um ser-humano como todos vocês, porém, sendo escravo, nunca ninguém buscou minha amizade. Esse leão não vê cara e sim coração! Na caverna fizemos uma bela amizade, ele cuidou de mim, me protegeu do frio, do calor, me levou onde havia água, fiz fogueiras em noites frias. O leão me trazia comida e eu o ajudei. Por vezes, o protegi de caçadores quando pude e, agora, é a primeira vez que sinto o que é ter um irmão.
Diante de tais comoções o Rei estava prestes a lhe conceder a escolha de continuar a ser um escravo e viver entre humanos; ou seguir em liberdade e viver como bicho. Convictamente o moço quis a liberdade. O povo clamou para que o leão também não mais fizesse parte desses eventos sanguinolentos e, aos dois, foi concedido um presente: viver juntos por  anos.

“Um verdadeiro amigo é alguém que pega a sua mão e toca o seu coração.” - Gabriel Garcia marques - escritor colombiano (1927 -     ).

8 de fev. de 2013

O menino que não queria fazer papel de árvore



O colégio onde Mário estudava mostraria para pais, alunos, funcionários e convidados a peça do ano. Era um trabalho teatral em comemoração ao ano letivo e Mário foi escalado para fazer o papel de árvore na história, em que consistia em se fantasiar de árvore e ficar plantado no fundo do palco do começo ao fim da peça - nada extraordinário ao seu ver.
Toda vez no almoço, quando a família estava sentada à mesa, o menino comentava a mesma coisa com seus pais:
-Mãe, a peça vai começar daqui um mês e nós já iniciamos os ensaios, mas eu nem quero ir. -Por que não, filho? -Por causa dessa árvore ridícula que eu tenho que fazer. O garoto até tinha razão, de modo que não havia motivo ensaiar para um papel de árvore - a bem da verdade é que Mário estava cabisbaixo.
No dia seguinte o menino queixou-se outra vez. Sempre falava da tal árvore, até que um dia o pai procurou resolver a questão. Entre uma garfada e outra ele pergunta: -Filho, como é o nome da peça? -Chama-se 'Não leve meu sol embora'. -Então você pode ter certeza que a árvore é muito importante pra essa peça. -Por que pai? -Porquê árvores se alimentam de luz solar. Após o pai explicar o papel da árvore na natureza, cuja importância é vital para o ser humano, o menino, entendeu, porém, o pai percebeu que o filho ainda precisava de um incentivo: -Vem cá filho, vou te mostrar uma coisa.
O pai guardava um carro antigo na garagem, mas era muito conservado. Até capa tinha a fim de não pegar poeira. Quando chegaram na garagem, o pai perguntou: -O que você vê aqui filho? -Um carro que você guarda na garagem, pai. O experiente moço retirou a capa, abriu o capô e disse: -E agora, o que vê? -Bom, eu vejo um montão de parafusos e peças que eu nem sei o que é. -Pois bem filho, esse montão de peças e parafusos são essenciais para o bom funcionamento do veículo. Tá vendo esse parafuso aqui? -Tô! -Então tome essa chave de fenda e tire ele. O menino fez a simples tarefa, ao que o pai pediu: -Agora tome a chave do carro e ligue-o. O menino fez a tarefa novamente, porém sem sucesso. -Ih pai... acho que seu carro tá velho, nem ligou. -É... eu percebei que não ligou. Agora vem cá, e rosqueie esse parafuso de onde você tirou e depois tente ligar o carro de novo. O menino assim fez e o carro realmente funcionou.
O pai não precisou falar nada. Naquela mesma noite eles assistiram um jogo de futebol na TV, já que o time preferido de ambos fariam uma árdua partida. O goleiro tinha sido o melhor jogador do confronto e, ao término do duelo, o pai salientou: -Tá vendo filho, imagine se não tivesse goleiro... todos são importante numa equipe, principalmente sua árvore. Vá lá e encare-a como o melhor papel da peça; como a melhor profissão do mercado; como o componente principal de um carro. Seja o goleiro da sua apresentação, e faça o melhor que há dentro de você.
Convenhamos que papel de árvore, de fato, não requer tantos desafios, mas isso era o de menos para uma criança que se sentia motivada, feliz e preparada.

"Nossas dádivas são traidoras, e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar" - autor desconhecido.


1 de fev. de 2013

Não leve meu sol embora





Eu tenho o prazer de ter irmãos e tenho o prazer de ter filhos também, e nunca tive a experiência de perdê-los, mas estou certo de que isso não traria prazer algum.
O pai trabalhava, o filho mais novo estudava e a mãe cuidava da filha mais velha que nascera doente. Marcy tinha onze anos. Ela vinha lutando com seu revés desde o nascimento. Fez inúmeras cirurgias. Quando tinha alta do hospital, retornava à casa, mas dali algum tempo estava no hospital novamente. Os médicos falavam que era vantagem o fato de a doença ter sido diagnosticada bem cedo: leucemia crônica.
Marcy sentia frequentes dores de cabeça, constante fadiga e sempre estava com o estômago inchado, além de hematomas pelo corpo. Havia outra vantagem em meio à esse mar de angústias. O irmão era  dois anos mais novo, e pôde doar seu sangue. O irmão doou a medula e Marcy pôde viver uma vida normal. Se uma pessoa tem a pele descascada com grande frequência, talvez é porque tenha problemas nos rins, e a pele de Marcy era prejudicada pela presença de ácido úrico, já que os rins filtram o sangue, e quando algum produto não interessa ao organismo, o rim entra em ação no papel de agente filtrador, e era por isso que Marcy sempre estava com a alimentação regulada. Era magra, fraca fisicamente, mas com certeza fez a família olhar o mundo com outros olhos.
Marcy tinha insuficiência renal, em que diálises eram constantes, de modo que necessitava de um transplante. O irmão entra cena, pois, de maneira que ele precisou de várias sessões de terapia a fim de acostumar-se à ideia de que dali em diante viveria com apenas um rim. De modo que convenceu-se de maneira madura para seus nove anos, já que tinha uma irmã que, até ali, não possuía rim bom. Justiça seja feita: um rim funcional pra cada um. E por Marcy, o irmão faria.
Para uma criança de onze anos que tem a saúde debilitada e substituiu internações por brincadeiras durante o pouco curso da vida; é estressante imaginar que viverá à mercê de médicos enquanto viver. E ela estava cansada disso tudo: médicos, hospitais, remédios, sessões de toda sorte. Onze anos é uma eternidade pra quem vive lutando e não sabe até quando vai apanhar nessa briga. O irmão doou um rim. A tendência do organismo é rejeitar o órgão transplantado. Marcy tomou muitas drogas para diminuir as defesas imunológicas. Os médicos passaram para a família que a operação havia ocorrido muito bem e que, com os remédios, não haveria problema, de modo que o novo rim foi rejeitado. Os médicos se perguntavam até que ponto Marcy queria realmente viver.
Pouco mais de dez dias do transplante ela estava deitada na maca do hospital. Era tarde da noite e a única presença ali era do seu irmão que conversava com ela e lhe falava palavras motivadoras. Existem forças superiores às do seres-humanos e, se assim fosse a vontade dessas forças, a família  perderia Marcy. Ao lado da maca havia um monitor que funcionava por gráficos na cor verde, mas se esses gráficos não oscilassem, de modo a ficar e linha reta, significaria que Marcy perdeu. E o irmão sabia disso. O coração de Marcy parou, e seria questão de segundos para o cérebro não mais ter oxigênio. O irmão ficou muito triste. Havia um alarme tocando bem baixinho o que indicava que o coração havia parado.
Ele aproximou seus lábios no ouvido da irmã: “ você é meu sol, meu único brilho de sol, você me faz feliz quando o céu está claro, por favor não leve meus raios de sol embora”. Marcy abriu os olhos, a tempo dos médicos reanimá-la.


“E quando todas aquelas coisas que tentamos fazer para obter sucesso não derem certo, ainda nos resta a esperança.” - autor desconhecido