João
morava em Santos com sua mãe e seu irmão que tinha dez
meses. Um dia ele ficou cansado do despetador e resolveu acordar sem
ao auxílio do mesmo. Resultado: recentemente chegava atrasado
ao trabalho. Não deu outra. Foi mandado embora do supermercado
onde era estoquista – não gostava muito mesmo desse serviço.
Isso aconteceu quando ele tinha 16 anos. O pai havia fugido de casa
havia qause dois anos quando a mãe engravidou de Luca. A mãe
não trabalhava e cuidava da criança e da casa alugada,
situada na periferia, ao qual conseguia sustentar pelo dinheiro do
bolsa família.
João
estava na sétima série, era o mais atrasado de sua
turma. Não que não fosse interessado nos estudos, mas
fato é que nunca foi educado à estudar, já que
sua mãe tem até a quarta série. Talvez, pela
filosofia sofrida de vida, João possuía duas
características diferenciadas no ser-humano: esforçado
e motivado. Sim, era um pouco preguiçoso, mas isso era porque
o desânimo, às vezes, era inevitável, como nessa
situação em que estava desempregado, a mãe
sempre discutia.
Começou
a entregar panfletos de apartamentos nos semáforos e aquilo só
alimentou a ilusão de morar naqueles prédios, uma dia,
quem sabe! Mudou-se logo para a empresa do tio (irmão da mãe),
uma escola profissionalizantes, onde havia apenas dois cursos: inglês
e informática. Lá entregava panfletos e abordava
pessoas nas ruas para vender – até que teve sucesso em
alguns casos, aprendeu na raça técnicas de vendas e foi
lá mesmo que teve noções básicas de
inglês e informática.
Agora, aos
dezoito anos se sentia mais culto, foi dispensado do serviço
militar como arrimo de família, muito embora havia preenchido
o cadastro que sim, queria se tornar um soldado. Começou a
estudar mais e mais na, já, quase falida escola do tio; passou
no vestibular e entrou em Sistema da Computação. Um
curso de três anos apenas: oitenta por cento do salário
era destinado à faculdade. Dessa vez era um bom aluno, mas no
momento em que ia começar o terceiro ano, a polícia
conseguiu localizar a mãe a fim de dizer que seu marido havia
morrido numa perseguição contra bandidos. Ele mexia com
drogas.
A última
vez que João havia encontrado o pai estava com onze anos de
idade, tinha uma vaga lembrança dos poucos ensinamentos,
alguns momentos era recordado por surafrem juntos ou jogarem bola na
praia com os caiçaras. Sobrara um retrato dez por cinco na
cabeceira de seu quarto quando joão tinha sete cinco: a
criança estava sentada nos ombros do pai, a mãe ao lado
e o mar de fundo. A mãe não quis ir para o Ceará
reconhecer o corpo. Foi João, pois.
Com cabelos
louros aparentemente uns cinquenta e poucos lá estava seu
Josias de um metro e oitenta jazido no caixão do Estado.
Depois que saiu do cemitério, João tomou coragem,
respirou fundo e, à sua frente, havia um mundo – agora para
encarar! Antes de retornar parou num bar, e o dono questionou sua
idade. Portava RG. No balcão ouviu alguém dizer que
tinha a intenção de montar algo voltado para o turismo
em fortaleza: -Olha moço, com licença, acabei de
enterrar meu pai, não sou daqui, tenho noções de
inglês e posso ser um guia turístico. Conversa vai e
vem, assim foi feito. Avisou a mãe, e também queria
tracar a faculdade por telefone, mas precisavam da assinatura, a mãe
até tentou ir lá, mas faltava a ssinatura do João.
Ou seja, a Faculdade continuou cobrando e dando faltas a ele. Ficou
um ano em Fortaleza, tornou-se fluente em inglês, conheceu uma
porção de gente bacana, e o pouco que ganhava mandava
para a mãe. Sentia falta dela e do seu irmãozinho agora
com cinco anos.
Voltou para
Santos a fim de ficar com eles.
(continua)
“as
únicas mentiras que se podem tornar realidade são
aquelas chamadas sonhos.” - autor
desconhecido