14 de nov. de 2012

Simplão de tudo




Fomos em dois carros, eu não conhecia ninguém, a não ser o rapaz e a menina cuja dupla de cantores me convidou para tirar fotos do evento. Logo quando chegamos à festa, a atmosfera do local já tomou conta de meu espírito sereno. Pudera, era uma local no meio do mato, onde a paisagem natural dava lugar à selva de pedra – e o céu parecia enfeitado de confetes brilhantes. Eu que vivo no estresse da cidade cinza valorizo cada planta, cada folha, cada verde – até o cheiro da estrada de terra era ímpar aos meus sentidos. O local era um pequeno rancho onde também funciona um camping-bar. Ficava no meio do mato, em uma estrada de terra com difícil acesso que liga Paranapiacaba à Mogi das Cruzes. Era aniversário de um cantor que, bem ao estilo bicho-grilo convidou inúmeras pessoas que são adeptas da música. Tinha um pequeno palco montado e, a cada música cantada por diferentes pessoas, revezava-se a vez. Havia profissionais da música, aspirantes, amadores, inicinates enfim... o local era tão distante da civilização que tiveram de levar geradores de energia para funcionar tudo.
O primeiro rapaz quem eu vi e, diga-se de passagem, nem o conhecia, já foi falando comigo: 'Iaí, joia?' 'Beleza e você' 'melhor agora nesse lugar né?' 'é verdade, maior paz de espírito'... após nossa ligeira introdução, olhei para baixo e vi uns degraus feitos de pedras. Era por ali que eu caminharia. Levei o pedestal do microfone e o carron (caixa de percurssão). Logo à minha direita havia um palco com um homem e uma mulher a prepararem-se para tocar. Ela vestia uma saia rodada verde-pastel, blusa branca e lenço na cabeça que tampava seus louros cacheados. Ele tinha a barba por fazer, uma calça que parecia pijama e cabelo de anjo - no peito um colar que parecia a estrela de David. Essa moda ditava o estilo da galera que estava lá – o que não faltava eram cortes de cabelo à la bob marley. Andei alguns passos entre as gramíneas e deixei os acessórios dentro do bar. Eu não sei qual era a cor da parede, pois estava forrada de fotos – alguns até famosos. Numa estante ao alto da pia havia um boneco de um mago que segurava um incenso. No balcão do bar, uma pequena estátua de um buda feito em gesso. Os penduricalhos que saíam do teto eram incontáveis catalisadores de sonhos que variavam cor e tamanho. Ao lado do fogão exista uma mesa com bibelôs de toda a sorte: fadas, gnomos, anões, alienígenas e todas essas viagens que só existem em contos dos Irmãos Grimm.
Encostei o cotovelo no balcão e ordenei uma cerveja que veio em um copo plástico de quase meio litro. A dona do bar cedeu-me gratuitamente, mas se você tiver fome lá, tenha certeza que vai desembolsar uma boa grana pra comer um simples pão com presunto, já que a padaria mais próxima estava há uns bons vinte quilômetros dali. A dona do bar era uma senhora de cinquenta anos, baixinha e gordinha, super-simpática que falava mais grosso que eu. Tinha os cabelos curtos encaracolados e soltava mais fumaça do que trem não-elétrico. Na frente do balcão exisia uma roda de jovens que, com dois violões, não paravam de cantar – Raul Seixas e Zé Ramalho eram os mais tocados.
Uma hora da manhã e os os primeiros acordes ecoaram lá do palco improvisado. A essa altura formou-se um aglomerado que acompanhava em couro músicas do Legião Urbana. Depois desse 'cover' foi a vez de um rastafari cantar seu reggae. Houve rock, forró, MPB, pop, até uma sósia da Janis Joplin – com voz igualzinha. O bar não podia ter outro nome: Simplão e Tudo.

Às vezes não é suficiente ser perdoado. Você tem que se perdoar a sim mesmo.” autor desconhecido

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