Fomos em
dois carros, eu não conhecia ninguém, a não ser
o rapaz e a menina cuja dupla de cantores me convidou para tirar
fotos do evento. Logo quando chegamos à festa, a atmosfera do
local já tomou conta de meu espírito sereno. Pudera,
era uma local no meio do mato, onde a paisagem natural dava lugar à
selva de pedra – e o céu parecia enfeitado de confetes
brilhantes. Eu que vivo no estresse da cidade cinza valorizo cada
planta, cada folha, cada verde – até o cheiro da estrada de
terra era ímpar aos meus sentidos. O local era um pequeno
rancho onde também funciona um camping-bar. Ficava no meio do
mato, em uma estrada de terra com difícil acesso que liga
Paranapiacaba à Mogi das Cruzes. Era aniversário de um
cantor que, bem ao estilo bicho-grilo convidou inúmeras
pessoas que são adeptas da música. Tinha um pequeno
palco montado e, a cada música cantada por diferentes pessoas,
revezava-se a vez. Havia profissionais da música, aspirantes,
amadores, inicinates enfim... o local era tão distante da
civilização que tiveram de levar geradores de energia
para funcionar tudo.
O primeiro
rapaz quem eu vi e, diga-se de passagem, nem o conhecia, já
foi falando comigo: 'Iaí, joia?' 'Beleza e você'
'melhor agora nesse lugar né?' 'é verdade,
maior paz de espírito'... após nossa ligeira
introdução, olhei para baixo e vi uns degraus feitos de
pedras. Era por ali que eu caminharia. Levei o pedestal do microfone
e o carron (caixa de percurssão). Logo à minha direita
havia um palco com um homem e uma mulher a prepararem-se para tocar.
Ela vestia uma saia rodada verde-pastel, blusa branca e lenço
na cabeça que tampava seus louros cacheados. Ele tinha a barba
por fazer, uma calça que parecia pijama e cabelo de anjo - no
peito um colar que parecia a estrela de David. Essa moda ditava o
estilo da galera que estava lá – o que não faltava
eram cortes de cabelo à la bob marley. Andei alguns passos
entre as gramíneas e deixei os acessórios dentro do
bar. Eu não sei qual era a cor da parede, pois estava forrada
de fotos – alguns até famosos. Numa estante ao alto da pia
havia um boneco de um mago que segurava um incenso. No balcão
do bar, uma pequena estátua de um buda feito em gesso. Os
penduricalhos que saíam do teto eram incontáveis
catalisadores de sonhos que variavam cor e tamanho. Ao lado do fogão
exista uma mesa com bibelôs de toda a sorte: fadas, gnomos,
anões, alienígenas e todas essas viagens que só
existem em contos dos Irmãos Grimm.
Encostei o
cotovelo no balcão e ordenei uma cerveja que veio em um copo
plástico de quase meio litro. A dona do bar cedeu-me
gratuitamente, mas se você tiver fome lá, tenha certeza
que vai desembolsar uma boa grana pra comer um simples pão com
presunto, já que a padaria mais próxima estava há
uns bons vinte quilômetros dali. A dona do bar era uma senhora
de cinquenta anos, baixinha e gordinha, super-simpática que
falava mais grosso que eu. Tinha os cabelos curtos encaracolados e
soltava mais fumaça do que trem não-elétrico. Na
frente do balcão exisia uma roda de jovens que, com dois
violões, não paravam de cantar – Raul Seixas e Zé
Ramalho eram os mais tocados.
Uma hora da
manhã e os os primeiros acordes ecoaram lá do palco
improvisado. A essa altura formou-se um aglomerado que acompanhava em
couro músicas do Legião Urbana. Depois desse 'cover'
foi a vez de um rastafari cantar seu reggae. Houve rock, forró,
MPB, pop, até uma sósia da Janis Joplin – com voz
igualzinha. O bar não podia ter outro nome: Simplão e
Tudo.
“Às
vezes não é suficiente ser perdoado. Você tem que
se perdoar a sim mesmo.” autor
desconhecido
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