26 de abr. de 2011

A história de Fernando ou retratos de uma sociedade real.




Fernando morava na cidade grande, ele tinha dez anos, mas já era bem esperto. O pai e ele vieram do Piauí, pois perderam suas terras, mas a mãe ficou com as duas outras crianças na casa de uma conhecida. Na sede da busca por melhores condições de vida, deram em São Paulo, e o pai conseguiu emprego de operador de empilhadeira. O menino Fernando era esforçado na escola, muito embora, às vezes, faltasse material ou uniforme, pois o Estado atrasava as entregas.
Era, então, o ano de 1970, e seu pai foi chamado para fazer parte do corpo de funcionários das empresas responsáveis pela construção da Rodovia Transamazônica, no trecho que compreende os estados do Pará e Amazonas. O filho foi junto. Fernando parou com os estudos e, enquanto o trabalho do pai seguia, o menino ficava encantado com os aviões monomotores que, sobre sua cabeça, voavam. Moravam num descampado, numa área conhecida como Terra do Meio, era bem conservada até. Havia os afluentes por perto e algumas trilhas que se estendia mata adentro - esse era o passatempo predileto de Fernando: curtir a natureza.
Os dias passaram e ele fazia amizades com o pessoal que ali estavam. Americanos e europeus desciam com seus aviões particulares naquela terra de ninguém. Fernando acompanhava cada turista gringo, tal como um guia - sua simpatia logo foi seduzida pela atenção dos estrangeiros. Então Fernando mandava cartas para a sua professora em São Paulo: -Tia, aqui na região amazônica é tudo muito bonito, vejo pássaro, cobras e até aviões.
Os gringos estavam interessados em fazer pesquisas indígenas, outros em saber porque aquela região é o pulmão do mundo. -Tia, já estou aprendendo a falar inglês. Cientistas franceses, autoridades em conservação socioambiental, vinham colher referências desse grande bioma. "Tia, já falo até francês e eles me dão uma monte de coisas: cobertor, tênis, bola..."
Por sua esperteza e inteligência as pessoa de fora olhavam Fernando como uma grande promessa para a contribuição científica mundial, o que consideravam um enorme desperdício deixar um menino como ele naquela anarquia de lugar. -Tia, eles falam que querem me levar para o país deles. A empreiteira demitiu todos funcionários, a Transamazônica no trecho do Pára segue inacabada. o Pai dele tornou-se garimpador de madeira ilegal, o que lhe rendia o suficiente para seu sustento de morador da comunidade local - que, aliás, fazia rixa com poderosos grupos econômicos nacionais e, como pistoleiro, o pai de Fernando brigava até com índios
O garoto parou de enviar carta para a professora. Hoje ele mora nos Estados Unidos, não tem muito contato com o pai, mas um dia lhe mandou uma carta: -Pai estou muito feliz aqui e gostaria que você viesse junto, estou noivo, e quero te ver no meu casamento. Eu compro uma casa pra você, pois sou coordenador de um lugar chamado Nasa.
Certa feita os índios invadiram uma área de um grileiro, esse, por sua vez convocou alguns pistoleiros para matar o índios, o pai de Fernando estava no meio, e foi atingido por uma flecha. A carta nunca foi respondia.

É fácil ser diferente, difícil é ser melhor! - Jonathan Ive


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