23 de abr. de 2011

A misteriosa lenda do quadro

Uma vez casados, foram morar juntos, nunca haviam dormido na mesma cama, prepararam o lar da maneira que mais interessava, de maneira que faltava uma coisa: um quadro para decorar o quarto do casal. Eles viram muitos, procuram em sites, pediram ajuda, leram livros de feng shui, folhearam revistas de decoração, mas nunca gostaram de nenhum. Um dia, quando passeavam numa feira, depararam com o objeto de desejo. Era simples, mas gostaram. No quadro, estampava-se o rosto de um menino de uns oito anos, que fitava o olhar para o lado direito. O detalhe: a gravura só era vendida juntamente com o par dele: o rosto de uma menina que olhava para a esquerda. Eles gostaram, levaram as obras e as pregaram sobre a cama: um quadro ao lado do outro, como se o menino olhasse para menina.
Naquele dia foram dormir e, o marido, de repente, ouviu alguma coisa, um sussuro qualquer. Meio assonado ergueu a cabeça, olhou para a mulher, mas ela dormia. O rapaz não esquentou e tornou a cabeça no travesseiro. Na noite seguinte, mais um balbuciar estranho quebrou o silêncio, dessa vez a mulher achou que era o marido. As noites passavam, e eis que o rapaz prergunta na mesa do café: -Você é sonâmbula? Não! -Ronca? Não! -Fala enquanto dorme? Não! -Então porque escuto barulhos à noite?sempre acho que é você. "Pois fique sabendo que eu também escuto essas mesmas coisas. Não é você?" Não!
Foi aí que eles começaram a se assustar cada vez mais. Foram trabalhar em seus respectivos serviços, foi um dia duro para o casal, estavam super cansados. A mulher chegou primeiro em casa, preparou o jantar, tomou um banho e esperou o marido no sofá, a saborear uma mistura de chocolate em pó sem açúcar, combinado com leite condensado. Na TV, o último capítulo da novela.
Quando o moço chega, ele fala. -Novela de novo? põe no jogo. "Você não está com cara que vai assistir jogo nehum! Está super cansado..." -Estou mesmo, hoje tive um dia difícil no trabalho. "Pois é, eu também, rodei a cidade toda em busca de contatos para a empresa, visitei vários clientes e fiz tudo a pé." - O que tem para comer, amor? "Está na panela, vê lá". Ele nem requentou, e comeu o macarrão daquele jeito mesmo. Foi o tempo de ele tomar banho e escovar os dentes e a mulher havia cochilado no sofá: "Ei Maria, vai dormir na cama". ao que ela foi. Ele zapeou o jogo na tv, mas depois de quinze minutos capotou ali mesmo.
Não se sabe se é por causa do cansaço de ambos, mas naquela noite, os barulhentos carros, os ônibus e caminhões insuportáveos que passavam na avenida, resolveram calar-se. Até os latidos deram trégua. Foi uma noite de paz, não se ouviu nada.
Mas na noite seguinte, quando o casal dormia na cama, ouve-se uma risadinha: Maria, pára de sonhar! Ele olhou-a e ela não estava a rir, tinha um bom sono e dormia tal uma pedra - longe de parecer que sonhava. Uma hora depois as risadas eram incessantes, em voz grave e aguda, mas não muito barulhentas, pareciam cochichos, a mulher acordou e: "João, é você? -Eu não, por quê? "Acho que ouvi coisas agora...". -Ache não, tenha certeza, porque algo está acontecendo... E ficaram na cama acordados durante umas boas duas horas, a fim de decifrar o conflito. Estavam super preocupados, mas conseguiram dormir, pois, o sono falou mais alto. Na manhã seguinte, a mulher acordou primeiro e foi tomar banho. O marido, pegou a camisa do mancebo e deu uma olhada no quadro: -Maria, vem cá! "Que foi, estou tomando banho..." -Então é melhor você terminar e vir aqui... Não acreditaram no que viram, mas estava lá, uma paisagem bucólica no lugar da pintura do menino e da menina.
Reza a lenda que aquelas duas espevitadas crianças, tão hiperativas quanto inquietas não suportaram a calmaria do local e, hoje, a ausência delas contribui para a conservação das influências positivas que, supostamente, presenteiam aquela casa.
O Que é disperso pelo vento, é acolhido pelas águas.” - ditado chinês




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