7 de dez. de 2012




Não leve meu sol embora.

Eu tenho o prazer de ter irmãos e tenho o prazer de ter filhos também, e nunca tive a experiência de perdê-los, mas estou certo de que isso não traria prazer algum.
O pai trabalhava, o filho mais novo estudava e a mãe cuidava da filha mais velha que nascera doente. Marcy tinha onze anos. Ela vinha lutando com seu revés desde o nascimento. Fez inúmeras cirurgias. Quando tinha alta tomava alta do hospital, retornava à casa, mas dali algum tempo estava no hospital novamente. Os médicos falavam que era vantagem o fato de a doença ter sido diagnosticada bem cedo: leucemia crônica.
Marcy sentia frequentes dores de cabeça, constante fadiga e sempre estava com o estômago inchado, além de hematomas pelo corpo. Havia outra vantagem em meio à esse mar de angústias. O irmão era dois anos mais novo, e pôde doar seu sangue. O irmão doou a medula e Kate pôde viver uma vida normal. Se uma pessoa tem a pele descascada com grande frequência, talvez é porque tenha problemas nos rins, e a pele de Marcy era prejudicada pela presença de ácido úrico, já que os rins filtram o sangue a fim de eliminar substâncias nocivas como o ácido úrico, por exemplo. Quando algum produto não interessa ao organismo, o rim entra em ação no papel de agente filtrador, e era por isso que Kate sempre estava com a alimentação regulada. Era magra, fraca fisicamente, mas com certeza fez a família olhar o mundo com outros olhos.
Kate tinha insuficiência renal, em que diálises eram constantes, de modo que necessitava de um transplante. O irmão entra cena, pois, de maneira que ele precisou de várias sessões de terapia a fim de acostumar-se à ideia de que dali em diante viveria com apenas um rim. De modo que convenceu-se de maneira madura para seus nove anos, já que tinha uma irmã que, até ali, não possuía rim bom. Justiça seja feita: um rim funcional pra cada um. E por Marcy, o irmão faria.
Para uma criança de onze anos que tem a saúde debilitada e substituiu internações por brincadeiras durante o pouco curso da vida; é estressante imaginar que viverá à mercê de médicos enquanto viver. E ela estava cansada disso tudo: médicos, hospital, remédios, sessões de toda sorte. Onze anos é uma eternidade pra quem vive lutando e não sabe até quando vai apanhar nessa briga. O irmão doou um rim. A tendência é rejeitar o órgão transplantado já que é um corpo estranho no organismo. Marcy tomou muitas drogas para diminuir as defesas imunológicas. Os médicos passaram para a família que a operação havia ocorrido muito bem e que, com os remédios, não haveria problema, mas o novo rim foi, de fato, rejeitado pelo organismo. Os médicos se perguntavam até que ponto Marcy queria realmente viver.
Pouco mais de dez dias do transplante ela estava deitada na maca do hospital. Era tarde da noite e a única presença ali era do seu irmão que conversava com ela e lhe falava palavras motivadoras. Existem forças superiores às do seres-humanos e, se assim fosse a vontade dessas forças, a família perderia Marcy. Ao lado da maca havia um monitor que funcionava por gráficos na cor verde, mas se esses gráficos não oscilassem, de modo a ficar e linha reta, significaria que Marcy perdeu. E o irmão sabia disso. O coração de Marcy parou, e seria questão de segundos para o cérebro não mais ter oxigênio. O irmão ficou muito triste. Havia um alarme tocando bem baixinho o que indicava que o coração havia parado.
Ele aproximou seus lábios no ouvido da irmã: “ você é meu sol, meu único brilho de sol, você me faz feliz quando o céu está claro, por favor não leve meus raios de sol embora”. Marcy abriu os olhos, a tempo dos médicos reanimá-la.


E quando todas aquelas coisas que tentamos fazer para obter sucesso não derem certo, ainda nos resta a esperança.” - autor desconhecido



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