Não
leve meu sol embora.
Eu tenho o
prazer de ter irmãos e tenho o prazer de ter filhos também,
e nunca tive a experiência de perdê-los, mas estou certo
de que isso não traria prazer algum.
O pai
trabalhava, o filho mais novo estudava e a mãe cuidava da
filha mais velha que nascera doente. Marcy tinha onze anos. Ela vinha
lutando com seu revés desde o nascimento. Fez inúmeras
cirurgias. Quando tinha alta tomava alta do hospital, retornava à
casa, mas dali algum tempo estava no hospital novamente. Os médicos
falavam que era vantagem o fato de a doença ter sido
diagnosticada bem cedo: leucemia crônica.
Marcy sentia
frequentes dores de cabeça, constante fadiga e sempre estava
com o estômago inchado, além de hematomas pelo corpo.
Havia outra vantagem em meio à esse mar de angústias. O
irmão era dois anos mais novo, e pôde doar seu sangue.
O irmão doou a medula e Kate pôde viver uma vida normal.
Se uma pessoa tem a pele descascada com grande frequência,
talvez é porque tenha problemas nos rins, e a pele de Marcy
era prejudicada pela presença de ácido úrico, já
que os rins filtram o sangue a fim de eliminar substâncias
nocivas como o ácido úrico, por exemplo. Quando algum
produto não interessa ao organismo, o rim entra em ação
no papel de agente filtrador, e era por isso que Kate sempre estava
com a alimentação regulada. Era magra, fraca
fisicamente, mas com certeza fez a família olhar o mundo com
outros olhos.
Kate tinha
insuficiência renal, em que diálises eram constantes, de
modo que necessitava de um transplante. O irmão entra cena,
pois, de maneira que ele precisou de várias sessões de
terapia a fim de acostumar-se à ideia de que dali em diante
viveria com apenas um rim. De modo que convenceu-se de maneira madura
para seus nove anos, já que tinha uma irmã que, até
ali, não possuía rim bom. Justiça seja feita: um
rim funcional pra cada um. E por Marcy, o irmão faria.
Para uma
criança de onze anos que tem a saúde debilitada e
substituiu internações por brincadeiras durante o pouco
curso da vida; é estressante imaginar que viverá à
mercê de médicos enquanto viver. E ela estava cansada
disso tudo: médicos, hospital, remédios, sessões
de toda sorte. Onze anos é uma eternidade pra quem vive
lutando e não sabe até quando vai apanhar nessa briga.
O irmão doou um rim. A tendência é rejeitar o
órgão transplantado já que é um corpo
estranho no organismo. Marcy tomou muitas drogas para diminuir as
defesas imunológicas. Os médicos passaram para a
família que a operação havia ocorrido muito bem
e que, com os remédios, não haveria problema, mas o
novo rim foi, de fato, rejeitado pelo organismo. Os médicos se
perguntavam até que ponto Marcy queria realmente viver.
Pouco mais
de dez dias do transplante ela estava deitada na maca do hospital.
Era tarde da noite e a única presença ali era do seu
irmão que conversava com ela e lhe falava palavras
motivadoras. Existem forças superiores às do
seres-humanos e, se assim fosse a vontade dessas forças, a
família perderia Marcy. Ao lado da maca havia um monitor que
funcionava por gráficos na cor verde, mas se esses gráficos
não oscilassem, de modo a ficar e linha reta, significaria que
Marcy perdeu. E o irmão sabia disso. O coração
de Marcy parou, e seria questão de segundos para o cérebro
não mais ter oxigênio. O irmão ficou muito
triste. Havia um alarme tocando bem baixinho o que indicava que o
coração havia parado.
Ele
aproximou seus lábios no ouvido da irmã: “ você
é meu sol, meu único brilho de sol, você me faz
feliz quando o céu está claro, por favor não
leve meus raios de sol embora”. Marcy abriu os olhos, a tempo
dos médicos reanimá-la.
“E quando todas aquelas coisas que tentamos
fazer para obter sucesso não derem certo, ainda nos resta a
esperança.” -
autor desconhecido
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