19 de abr. de 2013

meninos do morro



João trabalhava numa indústria que fabricava peças de carro. Um belo dia foi visitar uma outra empresa, próximo à favela.
Quando o motorista deixou a rodovia a fim de entrar no bairro, alguns metros depois havia um sujeito que se impôs à frente do veículo e, com a palma da mão direita estendida, fez sinal de parada. O carro parou e o homem se aproximou com uma das mãos na cintura, trajava uma jaqueta preta em pleno mormaço quente -quem são vocês? O motorista já a perceber a situação, olhou para João e disse: -espera um pouco aqui que eu já volto. O motorista desceu do carro e, acompanhado do rapaz, andaram alguns metros, de modo que começaram a conversar. João observava tudo de dentro do carro e, curiosamente, quis saber o que os dois conversavam. Minutos depois o motorista retornou: -a barra 'tá' limpa, já podemos prosseguir. João olhou assustado para o motorista enquanto o rapaz do lado de fora fazia sinal para avançar.
Até chegar a empresa, o carro precisaria percorrer mais uns cinquenta metros. O empreendimento era absurdamente fantástico, e grande. Antes mesmo de abrir o portão da companhia, um senhor uniformizado de boina branca veio atendê-los. Após as devidas apresentações, os portões foram abertos e, dentro do parque industrial, enquanto dirigiam para a porta de entrada, admiravam a beleza do local. A fachada era composta de cubos de cimento acinzentados; havia um vão livre enorme, cujas pilastras nos extremos sustentavam o prédio de cinco andares de altura e vinte e cinco metros de comprimento. No centro da fachada existiam janelas que eram cobertas por películas azuis transparente que refletia o belo jardim à frente de chafarizes que funcionavam com água reutilizável.
João não conseguiu entender porque uma empresa tão bonita ficava à base de um morro, ao lado de uma favela. O trabalho de João era fazer auditoria na empresa, portanto deveria ficar por lá o dia todo. Na hora do almoço tiveram que sair e, dessa vez, o gerente de produção da companhia estava a bordo do carro, juntamente com João e o motorista. O senhor uniformizado de boina branca abriu os portões para que saíssem. Mais adiante o carro foi parado novamente, no mesmo lugar de antes - dessa vez por um rapaz diferente. O gerente de produção desceu do carro e foi conversar com o moço, tão logo foram liberados. João ficou sem entender, mas não perguntou nada. Quando retornaram do almoço,  o mesmo procedimento foi feito, ou seja, João percebera que toda vez que entrava um carro desconhecido ali, era preciso algum tipo de negociação com alguém a fim de liberar passagem para continuar.
Antes de João se despedir do gerente de produção, questionou: -Só uma coisa Francisco, por quê você desceu do carro e foi falar com aquele rapaz na hora em que fomos almoçar? -Porque eu precisava dizer que nós retornaríamos... e também disse a ele que vocês faziam parte de uma força profissional, cujo expediente acabaria às 17h. -Mas por quê você tem que dar satisfação a ele? -por que ele é funcionário do "morro", e a passagem de estranhos só é permitida se eles deixarem, entendeu?
Na viagem de volta o motorista ainda acrescentou que a empresa só estava lá porque antes da invasão das pessoas que moram no morro , a companhia já exista há muito tempo, e é por isso que a empresa fica num território onde a facção impera. -Então quer dizer que estávamos cercados de bandido? concluiu João. -Não! quer dizer que o dono da empresa também é dono do morro! João, portanto compreendeu que as pessoas que invadiram aquele lugar tiveram que pedir permissão para a empresa a fim de se instalarem lá.

"não importa a quantidade de vezes que você vai apanhar. Importa o quanto você consegue resistir" - autor desconhecido.

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