Um dia vou para Nova York
Se existe algo unânime entre todos os seres humanos, o hábito de viajar pontua os primeiros lugares da lista de paixões das pessoas. Independentemente de sexo idade, religião, poder aquisitivo, sempre haverá um lugar para passear, comprar, descansar, e se entreter ao modo que lhe convém. Pessoalmente, prefiro lugares exóticos à que modernos, porém, uma cidade que, imagino, me identificaria bastante é “the city that never sleeps”, e não posso deixar de, pelo menos uma vez na minha vida, passar uns bons quinze dias em Nova Yorque.
Mas enquanto isso não acontece, resolvemos, então, visitar um local diferente. Filhos, esposa e eu fomos a um parque aquático, e era uma coisa que eu nunca antes vira: uma lagoa coberta com marolas. Havia crianças a brincar; idosos que se banhavam; pessoas que se divertiam. Era uma verdadeira represa, tinha tanta água que havia inúmeros tampões, a fim de bloquear a passagem da mesma para que não escorresse cidade afora, já que o parque ficava nas proximidades urbanas da região, bem como um açude. Diziam que ali havia quase um milhão de metro cúbico de água – muita coisa! Entorno havia orlas para passear, bancos para sentar, restaurantes, bares, sorveterias, enfim, um centro de consumo diverso: um ponto turístico ímpar.
As marolas vinham de pouco em pouco, mas começaram a crescer. Eu estava num banco sentado, de modo que meus três filhos compreendiam o ângulo de minha visão. Minha esposa tinha ido buscar um sorvete de bola.
Sem saber de onde, nem como, eis que, repentinamente, surge uma grande onda. Imaginem uma tão imensa a ponto do monstro do lago Ness ser levado por ela. Ninguém ali naquele lugar tinha tempo pra nada e quando dei por conta, a coisa estava sobre minha cabeça, segurei firme no banco e existem momentos na vida que a gente tem cem por cento de certeza das coisas, e ali me convenci que nenhum cristão sobreviveria. Fazer o que? Sempre digo que se algo tiver que acontecer, que seja comigo; se tiverem que sequestrar meus filhos, me levem. Se tiver que me atirar na frente de uma bala para salvar a vida deles, não tem problema. Coloco a família em primeiro plano, mas estou sempre um passo à frente, a fim de protegê-los. Mas ali não tinha jeito. A tsunami arrastou tudo!
Quando eu estava debaixo d`água e não tinha mais fôlego, a corrente me puxou ainda mais para baixo, porém, me levou a uma vala que parecia um bolsão de ar. Fiquei preso ali, e pensava na família. O maremoto só acabou porque os tampões que seguravam a água foram derrotados pela força da natureza: inundou a cidade e, no lugar do lago bonito, ficara um vale gigante e seco – a água escoou toda. Olhei de cima e vi muitas pessoas ao chão. Desesperei-me em busca da família. Perguntava a todos se haviam visto crianças, mas estavam aterrorizados, uma das pessoas, me disse com infeliz realidade que a chance de alguém ter sobrevivido ali era impossível. “Quer dizer então que você está me dizendo que meus filhos morreram? O cara estava em choque e nem respondeu. Horas depois, o resgate aparece e, em minha direção, uma moça trazia uma maca de dois andares, tal como um beliche com rodinhas um tanto menor. Na parte de baixo, meu filho Lorenzo. Na parte de cima, meu outro filho Pedro Henrique - os dois intactos como pedra. Minutos após, Lorenzo começou a se mexer, peguei-o no colo, mas o Pedro nem sinal e tentei reanimá-lo, de modo que demorou a abrir os olhos, quando me viu ficou feliz – minha emoção aflorou.
Faltava minha outra filha Lara e minha esposa Luciana, eu já estava desesperado e assustado, não sabia o que fazer e fiquei no local sem me mover, de repente aparece uma criancinha pequenina correndo na minha direção com os braços abertos e, copiosa, chorava: -Papai, papai... Impossível descrever meus sentimentos aqui. A Luciana vinha logo atrás, muito abalada e olhos marejados. Não sei como eles sobreviveram, mas fato é que eu também estava ali.
Muito mais além do desejo de reencontrar a família, era o desejo de que nada aquilo tivesse acontecido; muito mais além do fato de saber que eles estavam saudáveis, o que eu mais queria era que tudo aquilo pudesse ser um sonho...
...Mas um dia vou pra outro lugar. Nova York, quem sabe!
“Não se prende a natureza, pois quando se libertar revoltará em fúria”. – autor desconhecido.
família unida jamais será vencida...
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