18 de nov. de 2011

Gota d' água




A maior cidade em extensão do planeta: Altamira - PA será um dos palcos para a construção da Usina de Belo Monte e, no que depender de mim e mais milhares de pessoas, incluindo James Cameron (diretor de Avatar) e uma dezena de elenco de celebridades nacionais – a usina não existirá. De modo que sou a favor de geração de energia elétrica sim, porém, deve-se ter planejamento, ao inves de quererem desmatar grandes áreas de nosso verde e extinguir população indigena a torto e a direito.
Belo Monte será construída no rio Xingu, um dos mais importantes afluentes do rio Amazonas. A Bacia do rio Xingu ocupa dois estados na região Norte do Brasil: Pará e Mato Grosso, e a construção afetará globalmente terras indígenas, unidades de conservação e populações tradicionais, além de ter a vazão reduzida em 100 quilômetros de rio. Duas barragens no projeto de Belo Monte criarão dois reservatórios ligados por 40 quilômetros de canais para desviar 80% das águas do Xingu. Serão 668 quilômetros quadrados entre áreas de floresta, igarapés, leito do rio e áreas naturalmente sazonais que serão permanentemente inundadas pelos reservatórios. Parte dos 18 municípios envolvidos também serão alagados pelo reservatório principal.
A usina terá capacidade para onze mil megawatts de potência e abastecerá 18 milhões de novas residências, numa região onde há carência de infraestrutura, economia estagnada e desemprego alto. Pagaremos de nossos bolsos cerca de 20 bilhões de reais para gerar mais de 100 mil empregos - isso significa uma explosão demográfica na região amazônica que, aliás, não está preparada e, se depender do governo, nunca estará – já que não existe planejamento nesse país tupiniquim. O Ibama concedeu licença ambiental para a construção de Belo Monte com 40 condicionantes, entre elas: ordenamento fundiário, asfaltamento da transamazônica, eletrificação rural – que são os três maiores gargalos da região, mas ainda existe fartura para os pequenos agricultores de milho, arroz, cacau, feijão, que não estão afim de deixar o ganha-pão de lado. Não adianta evitar apagão para construir usina hidrelétrica, já que podemos ter energia heólica, solar, biomassa – esta energia, aliás, pode produzir três vezes mais a capacidade de Belo Monte, apenas com o bagaço da cana de açúcar que é desperdiçado. Paises de primeiro mundo que tem o planejamento como mote principal de suas metas políticas adorariam ter tanto bagaço de cana assim para gerar energia de biomassa, aliás, o Brasil é alvo da pior crítica mundial: temos potencial energético, mas não sabemos usá-lo.
Poucas paisagens no mundo guardam tantas forma de vida, e com a construção dessa usina, o rio Xingu vai secar; a água vai aquecer, os peixes vão morrer, mas duvido que os indios vão recuar: farão movimentos pra enfrentar essa realidade, como sempre fazem, já que quatro mil famílias devem ser transferidas. Poucas coisas podem parar um homem, mas só o homem pode parar um rio, se a usina de Belo Monte virar uma realidade, parte do imenso rio Xingu será represada, alterando seu potencial hídrico, alagando igarapés permanentemente, destruindo cavernas e sítios arqueológicos, causando morte da vida marinha que depende de um regime sazonal, depende das cheias, e das secas para sobreviver. Uma imensa área será desmatada para a construção de reservatórios, e com o ônus populacional das cidades, a tendência é que o desmatamento aumente cada vez mais, a vida econômica e cultural dos povo da Baía do Xingu nunca mais será a mesma.
Se uma gota no rio reverbera o universo, imagina a terceira maior hidrelétrica do mundo? Belo Monte interesa a nós, e não às empresas de mineração que depredam a amazônia. Quem se beneficiará? Os povos ribeirinhos ou as construtoras privadas? Alterar o curso de um rio não é direito de nenhum ser humano. Durante oito meses do ano não chove lá, então a usina somente funcionará em um terço de sua capacidade total e custará ao meu bolso, e ao seu vinte bilhões de reais.
Caçambas, retroescavadeiras, máquinas de terraplanagens e compactadores em movimento: o canteiro de obra já começou.

"A natureza criou o tapete sem fim que recobre a superfície da terra. Dentro da pelagem desse tapete vivem todos os animais, respeitosamente. Nenhum o estraga, nenhum o rói, exceto o homem." - Monteiro Lobato

Nenhum comentário:

Postar um comentário