É
difícil educar três filhos, imagina oito! Principalmente
quando os pais é um pedreiro e uma diarista. Dificilmente o
dinheiro dá para as fraldas, por exemplo. Os 'quase' dois
salários mínimos são gastos em comida –
contas, nem pensar!
Se um desses
oito filhos foge de casa aos 16 anos, com certeza é porque no
lar onde esse adolescente mora algo anda errado. Motivos à
parte é que nenhuma família que ganha tão pouco
consegue manter uma relação repleta de satisfações
– às vezes nem com dinheiro a situação
mantém-se controlável!
Dos mais
recônditos e inóspitos lugares escondidos no interior de
Minas Gerais o garoto fujão resolve dar em Brasília,
talvez porque como é a capital do país ele achara que
estivesse mais seguro, pois. Com uma mão na frente e outra
atrás, e diga-se de passagem com os devidos documentos
portados, o rapaz encontra um emprego em que não há
necessidade de muita experiência – soma-se a isso o fato de
ser negro, o que reduz, infelizmente, as possibilidades de melhores
colocações no mercado de trabalho, de modo que tão
logo encontra um de ajudante de auxiliar de operador de fotocopiadora
na redação de um jornal de bairro. Para muitas pessoas
orgulhosas isso jamais seria cabível, mas para nosso amigo da
historia em questão, ele considerou esse ofício tão
valioso quanto um sorvete no deserto. Determinado a agarrar essa
oportunidade como quem segura uma nota de cem, mergulhou de cabeça
na filosofia da empresa e aprendeu ali a ser o melhor e colocar amor
em tudo o que faz e faria dali em diante. E então foi atrás
daquilo que nunca teve – e por isso mesmo dava valor: Estudos.
O jornal
onde ele trabalhava publicava muitas informações sobre
política, já que Brasília era o berço
dessa vertente, ou seja, logo que nosso adolescente negro soube de
uma vaga em um dos ministérios, não deixou a
oportunidade escapar. O office-boy percebeu que deveria prestar
concursos caso quisesse algo melhor, e como amava estudar, pegou pra
valer nos livros, folheou apostilas, preencheu inúmeros
cadernos com contas, gastou muita tinta nas redações e
textos, e não economizou grafite a fim de decorar as mais
espinhosas fórmulas. Não deu outra. Foi aprovado para
Procuradoria da República aos 20 anos.
Demorou um
pouco para ser chamado é verdade, mas quando começou
amou o emprego. Ficou um bom tempo nisso e licenciou-se do cargo.
Talvez ele já tinha estudado tanto aqui no Brasil que precisou
aprender outra língua. Foi dar na França onde obteve o
doutorado em Direito Público. De volta ao Brasil agora é
um docente da Federal no Rio de Janeiro. Nessa época de
professor lecionou nos Estados Unidos nas Universidades da Califórnia
e Columbia. Por curiosidade em aprender alemão foi fazer um
curso de línguas na Áustria, onde acabou pegando gosto
pelo violino. Nas aulas de música havia um influente aluno que
o convidou para lecionar em Madrid.
Quando
retornou ao país foi convidado pelo Presidente de República
em questão a ser ministro do Supremo Tribunal Federal, onde
alguns anos depois foi nomeado vice-presidente desta que é a
mais alta instância do Poder Judiciário no Brasil.
Não
demorou muito para se tornar Presidente do STF – o quarto na linha
de sucessão das autoridades máximas do Poder Executivo.
“uma
coisa é certa: todos vão cair. O seu diferencial é
saber extrair da queda o teu sucesso.- autor
desconhecido.”
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