Um dia
para se pensar
Acordo de
manhã, abro a geladeira e procuro um iogurte. Pego o natural.
Enquanto procuro a granola e o leite condensado penso: Será
que vou me adaptar a essa separação? onde vou morar?
Será que ela vai para a casa dos pais dela? Lavo a louça
e vou escovar os dentes, penso: Se ela for para a casa dos pais,
será que leva as crianças, e, se levar eu não
vou vê-los? Abro a porta de casa, chamo o elevador e,
enquanto não vem, penso: ela disse que eu os veria de
quinze em quinze dias, aos finais de semana, mas, e se eu quiser sair
com as crianças durante a semana também? O elevador
chega , desço até a garagem, ligo o carro e, o trajeto
até o trabalho, tem sete quilômetros: ela não
tem advogado, vai ter que recorrer à justiça, o que
será determinado? Eu vou sentir muita falta da familia? Mas
não tenho para onde ir... Chego no serviço onde sou
repórter num canal de TV, sento em minha cadeira, ligo o
computador e enquanto a tela não abre: será que eu
alugaria uma casa para eu morar, ou eu ficaria na minha própria?
vou gastar mais? quanto será a pensão? No mesmo
instante em que o computador liga, meu chefe vem ter comigo (sim
porque aqui na redação tem muito cacique pra pouco
índio). -Aconteceu um acidente na Dutra, vai cobrir, o
motorista já está te esperando. Meu chefe também
falou que foi a polícia quem ligou, a fim de solicitar a
cobertura da reportagem. Entro no carro do motorista e tenho bons 40
minutos para pensar: as crianças são pequenas, será
que elas vão sentir falta do pai? No caso de elas ficarem
comigo, será que sentirão mais falta da mãe?
Precisarei adaptar a família a essa nova rotina, onde vou
buscar inspirações? como organizar a guarda dos filhos?
O que fazer? Chego ao local do acidente, entraremos ao vivo.
Tenho uma grande capacidade em improvisar uma reportagem ao vivo, por
isso meu chefe me confia esse cargo. A cena do local me faz
concentrar totalmente no trabalho, havia carros, caminhões e
ônibus, pessoas muito feridas, inclusive crianças, além
de dua mortes. Fiz a matéria, guardamos as coisas na van e
retornamos. No caminho, o motorista, que era pai de filhos de mães
diferentes me atentou ao detalhe de sempre oferecer proteção
aos à crianças, e aquele acidente me fez pensar muitas
coisas também. Ao chegar à TV, tive uma reunião
com meu chefe e passei um relatório do ocorrido. Já era
noite quando eu voltava para a casa e, depois de um dia cheio de
trabalho, juro que pensei em reconciliar-me, pois, é muito
difícil estar num lar sem harmonia. Entro na garagem,
estaciono o carro, e o elevador estava a me esperar já.
Enquanto sobe penso: Talvez eu não tenha sido um marido
perfeito, mas me esforço para ser pai presente, talvez não
nos preparamos para conviver em família. O que vai acontecer?
Como agir? Chego, abro a porta de casa e...
...Um cheiro
de incenso no ar, velas por todo lado, música instrumental de
fundo, mesa posta com duas taças de vinho: Você
chegou? A voz vem do banheiro, vejo que as crianças dormem
bem, a hidromassagem tem espuma com essência de maracujá
até o pescoço de minha esposa, velas vermelhas e
brancas enfeitam o ambiente, pétalas amarelas e rosas
contrastam a energia do lar, entro na jacuzzi, água quente,
abro os braços, apoio-me na cabeceira e, depois de um dia com
tantos pensamentos, agora já não penso mais nada.
“Lembre-se
que a felicidade é um modo de viver e não um objetivo
de vida.” - autor desconhecido.
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